sábado, 23 de fevereiro de 2008

FINALMENTE O REGRESSO A MOÇAMBIQUE

Durante anos andei a sonhar, o dia em que pudesse voltar a visitar, aquela que considero a minha terra- Nacala! Eu amava aquela terra, aquela gente, que tinha sido tão enganada, como eu.
O macua, é um povo simples e amigo do seu amigo.
Todos os anos fazia um PPR. Eu dizia que era para um dia poder ir a Moçambique. Sabia que só receberia essa poupança aos 60 anos, mas também Moçambique , na altura, andava em guerra ; Frelimo contra a Renamo.
Só tinha que ter Esperança e aguardar...

Finalmente vi o sonho realizado.
Quando fiz os 60 anos, preparámos tudo para o embarque. O dia 16 de Novembro de 2005 foi o grande dia.
Com mais dois casais amigos de Nampula , um deles foi o João Rebelo, antigo colega da EIC e vizinho do Bairro Muála, onde vivi.
Não queríamos ir sozinhos, após tantos anos de ausência: além de podermos partilhar despesas, cada um tinha os seus contactos e poderíamos partilhar melhor as  alegrias. Eu e marido ficámos nas Missionárias Combonianas de Nampula e de Nacala. Desde sempre mantivemos contacto com esta congregação que continuamos a ajudar. Lá sentir-nos-íamos em família!
Os nossos amigos contactaram alguns amigos antigos e que lá nos esperavam. No dia 17 de Novembro, o Benjamim Redolfo (Africano) e a Maria José, casada com o José Baptista, que nunca tinham vindo para Portugal. 
Que grande surpresa!
Nessa noite, eu e o João, não conseguimos dormir, com tanta emoção, ajudada pelo barulho das árvores e do calor (mais de 30ºs).
A Maria José tinha ido mostrar-nos a nova Nampula, antes de nos conduzir até à casa das Irmãs. As Missionárias Combonianas, moram um pouco distantes da cidade, no Bairro de S. José, perto do Matadouro. Quando às 4h00 da manhã o sono estava a vencer-nos, começou a ouvir-se, o chilrear dos passarinhos e o dia a amanhecer.
Levantá-mo-nos e lembrámos-nos de outros tempos: 
ver o nascer do Sol, sentir a aragem fresca da manhã, ver a vida a palpitar...

Depois do mata-bicho, muito simples, mas onde não faltou a saborosa papaia, a banana maçã e as deliciosas mangas, fomos ter com os n/amigos hospedados numa residencial perto do Clube Ferroviário, para irmos visitar uma nova Nampula, diferente, com muita garotada a tentar vender as suas artes e o pau-preto, de que aquele Povo é mesmo artista! O comércio estava praticamente todo, nas mãos dos  indianos.

Uma pequena informação histórica sobre a bela e imponente Catedral:A Catedral Nª Srª de Fátima, foi a 1ª Catedral do mundo dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Foi sagrada no dia 23/08/1956, pelo Cardeal D. Teodósio. Quando em 1984 a guerra atingiu a província de Nampula, iniciou-se na Catedral, às Sextas-feiras, a celebração da Paz. (era Bispo de então, D. Manuel Vieira Pinto). Quando em 1992 foi assinado o Acordo de Paz, passou a denominar-se também, Mãe da Paz.

Tínhamos sido recomendados, pelos amigos, para não comprarmos nada na rua, porque poderiam roubar-nos a carteira, (ou o telemóvel, de que eles tanto gostam).
Mas quando nos encontrávamos, com negros antigos e mais velhos, mesmo desconhecidos, tratavam-nos com todo o respeito e até carinho. Perguntavam se era a 1ª vez que lá estávamos e diziam : "são Portugueses", não são Estrangeiros!
Muito interessante!


No dia 18 apanhámos boleia de mais um dos antigos (o Correia Mendes) que estava em cooperação por parte da C.G.D. no B.C.F). Levou-nos até á nossa querida Nacala.

Esta linda acácia fica na rotunda da estrada
que vai de Nacala a Nacala-velha

E esta é a praia de Nacala-a-Velha




Aqui um prédio que

era do meu pai...


Aqui em baixo a casa que era nossa...

A Missão ficava no mato, pois é um empreendimento novo- uma Escola de Formação Feminina muito boa, como só os Missionários sabem ter. Apenas com quatro freiras, três professoras e uma enfermeira, de várias Nacionalidades, gerem uma Escola a sério, que vai desde o 5º até ao 12º.  Ano e com internamento das meninas, que morem fora de Nacala.No Domingo dia 19, fomos à Missa na Catedral (antiga Igreja Nsª Srª da Boa Viagem e onde tínha casado). Queríamos ir recordar os nossos 40 anos de casados, a fazer no próximo dia 8 Dezembro.
O Pároco, quando soube do facto, quis que no final déssemos o nosso testemunho da nossa longa vida de casal...

A Eucaristia foi, como são em África, muito vividas, recheada de cânticos e acompanhados de tambores. Como chorei de emoção!
A Catedral estava repleta de gente; crianças, jovens, adultos e anciãos, que rezavam, cantavam e batiam palmas. Acólitos (com capulanas todas iguais), mulheres com capulanas garridas e bonitas. Uma maestrina no coro. Tudo estava organizado.
Como era bom estar ali!!!

Depois da Missa, fomos almoçar com um antigo amigo (europeu) o João Martins, ao novo resort da bela praia de Fernão Veloso. (Conforme foto abaixo)

Como não tínhamos transporte próprio, chegámos também a andar de "chapa", nome dado a uma carrinha de 9 lugares (que levavam  muito mais de 10 pessoas). Quando nos viram a andar a pé, pararam e mesmo cheia, sentaram-se no chão e cederam-nos dois lugares.

O custo era de "50 contos", (como eles diziam), ou seja: 50 .000 Meticais (não chegava a €-2,00). 


Fomos também visitar um antigo continuo do BNU, o Xavier, que era agora apontador duma firma. A alegria foi enorme quando nos reconheceu. Depois do abraço, agradeceu o termos ido visitá-lo (foi uma honra, disse-nos). E foi visitar-nos no dia seguinte. Contou-nos coisas incríveis, que se passaram quando todo o pessoal cooperante veio embora e só ficaram os negros no Banco. Os problemas que surgiram com o antigo "pessoal menor" (sem qualificações), como roubos, falsificações, etc. Depois o despedimento.
Em Nampula, por exemplo, encontrámos um antigo colega do B.N.U., que eu tinha preparado para me substituir e agora era gerente doutro Banco. Este, pessoa responsável e inteligente, que nos disse:
"O pessoal do BNU sabia ensinar, era exigente, mesmo que houvesse um centavo de diferença não se fechava o dia sem se descobrir onde era o erro. Aprendi muito convosco! "
Mas quando falámos sobre as nossas casas, indústrias, enfim tudo o que perdemos, disse-nos:
"Nós,nem seque soubemos conservar o que nos deixaram"!...

Passámos ainda 4 dias no Maputo, onde encontrámos um amigo doutros tempos de estudantes, o Manuel Viola, que nos recebeu "5 estrelas"!
Visitámos tanta coisa,,,o antigo e o novo, pois já há novas construções. Tentei depois descobrir duas antigas colegas do BNU- a Lee Choi Há, que soube que vivia no Maputo e a Felizarda Castilho, que agora trabalhava em Inhambane e fazia rádio. Depois de uns telefonemas para colher informações e marcar os encontros, passámos um dia divertido, todas juntas, recordando outros tempos.
E no dia 30 de Dezembro, como não podia deixar de ser, para despedida, fomos jantar (apenas marisco) com os amigos Manuel Viola e Zé Avelar, ao antigo Restaurante, na sempre maravilhosa Costa do Sol.

















KANIMANBO AMIGOS!

Foram dias "maravilhosos" que jamais esqueceremos...
Finalizando poderei dizer:
O Saldo foi positivo.
Valeu a pena e desejo tudo de bom para aquele País, que começa a desenvolver-se e a ser reconstuido.

Quem sabe se um dia voltarei!!!????

Lá que gostar, gostava:....